Campanha “Água é vida, doe vida” entrega 3 mil litros de água potável para famílias ribeirinhas atingidas pela seca
No Lago Acajatuba, em Manacapuru, mais de 100 famílias esperam que as chuvas tragam de volta os dias de fartura. Ainda sob os efeitos da vazante histórica de 2024, os ribeirinhos sofrem para garantir a renda mensal, para se locomover e até para ter acesso a água potável.
Uma das famílias impactadas é a do pescador Hermes Aires de Souza Filho, que desde setembro está sem sua principal fonte de renda por conta da vazante, que provoca a escassez de peixes e de água para beber.
Ele mora há 20 anos no Acajatuba, mais especificamente em uma casa flutuante no igarapé da Prainha que, quando está cheio, é a via de acesso de mais de 170 famílias que vivem nas comunidades ribeirinhas Nossa Senhora Perpétuo Socorro, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Conceição, Santa Maria e São Francisco Bujaru, todas na região do Lago Acajatuba. Mas, desde meados de setembro, o flutuante de Hermes está “encostado” em uma ilhota que se formou com a seca do igarapé e ele não consegue mais pescar por conta da estiagem.
“Aqui a gente pega cará, matrinxã, jaraqui… mas este ano a seca chegou mais cedo e o período de pesca acabou antes. Com o igarapé seco, a água que a gente puxa não dá para consumir, é muito suja. Aí, para ter uma água mais limpa, a gente tem que pagar essa contribuição para poder buscar água no poço. É uma dificuldade a mais, ainda mais sem nossas fontes de renda”, relatou Hermes, enquanto carregava nos ombros um pacote de água mineral que deve garantir a ele algumas semanas de tranquilidade – e saúde.
A família dele foi uma das beneficiadas pelas doações da campanha “Água é vida, doe vida”, promovida pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus com o apoio da Atem Distribuidora e outros parceiros, que já arrecadou mais de 24 mil litros de água mineral para serem doados para famílias ribeirinhas afetadas pela seca na zona rural dos municípios de Iranduba, Careiro da Várzea, Careiro Castanho e Manaquiri. Quase metade das doações – mais de 10 mil litros – foi feita pela Atem e seus colaboradores.
“Nesse período a gente fica esquecido, ilhado sem o rio. Então, uma doação como essa, neste momento, é muito importante para nós. É um presente grande de Natal antecipado”, disse Hermes.
A coordenadora do Núcleo Paroquial Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, professora Alcione Santos, é a responsável por organizar a distribuição das doações às famílias das cinco comunidades que fazem parte do núcleo. Por conta da estiagem, o porto da Prainha virou uma central de distribuição. Na última quarta (13), o caminhão da Cáritas, carregado com 3 mil litros de água mineral, levou as doações até as margens do igarapé da Prainha, onde os ribeirinhos vão buscar os donativos, em canoas, e levar até suas comunidades, em trajetos que, na cheia, eram feitos em 25 minutos e, hoje, passam de duas horas e meia.
“Essa doação é muito importante para essas famílias, pois elas dependem da pesca, do plantio e do artesanato para a renda familiar, atividades que estão escassas devido à seca, que dificulta o plantio e as colheitas, a pesca e até o consumo de água. Porque, como a maioria das comunidades não tem poço, as pessoas dependem da água do rio, que nesta época do ano fica ainda mais imprópria para o consumo”, contou Alcione.
Campanha expandida
A campanha “Água é vida, doe vida” foi lançada em 20 de setembro pela Cáritas Arquidiocesana de Manaus em parceria com a Arquidiocese, Atem Distribuidora e outras empresas e instituições. “Essa campanha surgiu para ajudar as comunidades ribeirinhas que estão sofrendo com a seca extrema, precisando do nosso apoio. É uma campanha voltada inicialmente à arrecadação de água, mas que estamos expandindo para doações de alimentos e financeiras, que estão sendo usadas para a aquisição de filtros portáteis de purificação de água”, contou Daniele Silva, secretária executiva na Cáritas Arquidiocesana de Manaus.
Para o CEO do Grupo Atem, Fernando Aguiar, o sucesso da iniciativa reforça a importância do envolvimento e do apoio da sociedade a ações desse tipo, especialmente durante a vazante dos rios, que afetam não só o deslocamento e a geração de renda das famílias ribeirinhas, mas o acesso à saúde. “Além disso, essa campanha contempla o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 da ONU (Organização das Nações Unidas), que visa garantir o acesso universal e equitativo à água potável e ao saneamento básico. Mais que saúde, é uma ação que leva dignidade para centenas de famílias.”